segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

A lição que aprendi com a corrida de trail

A linha de partida era como um portal para o desconhecido. Lembro-me daquela energia pulsante, da certeza de que o corpo e a mente já sabiam, mesmo antes de começar, que ali estava uma lição à espera de ser vivida. As primeiras passadas eram leves, como se os pés tocassem o chão apenas para sussurrar promessas de força. Mas o trilho, é claro, nunca é o que imaginamos. As subidas surgiam como montanhas que falavam ao ouvido: "Tu és maior do que pensas", enquanto as descidas exigiam uma dança entre controlo e entrega. O terreno, instável e sábio, lembrava que a vida só se revela quando estamos plenamente presentes. Em certos momentos, o cansaço chegou como uma névoa suave. A mente, então, começou a tecer histórias: "E se parar? E se desistir?". Foi quando algo mais profundo respondeu. Uma voz que não usa palavras, mas que ecoa no centro do peito: "O ritmo é teu. Só teu." Não importava quem passava ou ficava para trás. Havia uma sabedoria em escutar quando acelerar, quando recolher as asas e quando simplesmente respirar fundo, deixando que o ar renovasse até as células mais escondidas. Houve uma curva onde a distração vestiu-se de certeza. Segui um caminho que parecia certo, até que algo — talvez o coração, talvez o instinto — sussurrou: "Volta." O erro, então, transformou-se em luz. Porque continuar no caminho errado só levaria a um lugar que não era o pretendido. E quantas vezes, na vida, insistimos no erro por orgulho, em vez de recuar para renascer? Aquele retrocesso não era fracasso; era o trilho a ensinar que flexibilidade é irmã da coragem. A queda veio como um abraço duro do destino. Uma raiz, a lama, o joelho a sangrar... E por um instante, o mundo parou. Naquele silêncio, havia uma escolha: ficar ali, rendido à dor, ou levantar-me e seguir — mesmo sem saber porquê. Tu já sabes neste momento qual o caminho foi tomado. Porque há uma força que nasce quando decidimos mover-nos além das quedas, das dúvidas, das feridas. O trilho, afinal, não premia os mais rápidos, mas os que entendem que cada passo, até o mais lento, é uma declaração: "Ainda estou aqui." Quando cruzei a meta, percebi que a maior conquista não era o tempo que fiz, mas a pessoa que me tornei no percurso. E talvez seja isso que faz toda a diferença: saber que o mais importante nunca foi apenas chegar ao fim, mas sim cada passo dado para lá chegar.

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Correr é liberdade. É sentir o vento no rosto, o ritmo dos passos no asfalto, a respiração ofegante, a conversa fiada com um am...