Em 2003, por motivos de trabalho, tive a oportunidade de visitar Timor-Leste, também conhecido como Timor Lorosae. Um grande sonho já estava cravado em mim antes mesmo de pisar aquele solo.
Semanas antes de embarcar, um colega meu, recém-chegado de lá, descreveu-me um lugar que parecia saído de um conto de fadas: um verdadeiro paraíso na Terra. Falou-me de cachoeiras imponentes, águas cristalinas que refletiam a luz como espelhos, e uma floresta repleta de espécies únicas de fauna e flora. O som suave da água em cascata, misturado com o canto das aves que ali habitavam, criava uma sinfonia perfeita, orquestrada pela natureza. Era um quadro que parecia irreal, mas que alimentou ainda mais o meu fascínio pela beleza intocada daquele lugar.
Sendo amante da natureza, logo defini a visita a esse lugar mágico como uma prioridade durante a minha estadia em Timor. Assim que cheguei, essa ideia estava viva em mim, pulsante, e tornara-se quase uma obsessão.
Na primeira oportunidade, pus em prática o meu plano de explorar aquele paraíso. Parti com grande expectativa, embora os recursos de navegação fossem limitados e os mapas apenas me guiassem até certo ponto. A partir dali, teria de confiar no meu instinto e arriscar. E foi exatamente o que fiz. Porém, à medida que avançava, a sensação de estar a caminhar em círculos começou a tomar conta de mim.
Com o passar das horas, o entusiasmo deu lugar à frustração. O desejo de desistir começou a pesar. Mas algo dentro de mim ainda queria continuar. Perguntei a alguns nativos que encontrei pelo caminho, mas a barreira linguística — eles falavam apenas tétum — tornava a comunicação difícil. Mesmo assim, com gestos e indicações, fui avançando, embora cada passo parecesse levar-me a lado nenhum. A frustração crescia, a sensação de fracasso começava a ser avassaladora, e a ideia de desistir parecia cada vez mais tentadora.
Quando estava prestes a voltar atrás, desiludido e cansado, recordei-me de algo que o meu colega tinha mencionado e que, até então, eu havia ignorado. Ele falou-me de uma aldeia próxima e de um homem, o chefe da aldeia, que falava português e que poderia ajudar-me.
Essa lembrança reacendeu a esperança em mim. Com renovada determinação, dirigi-me à aldeia. Lá, fui recebido calorosamente e, logo, me indicaram a casa do chefe. O senhor, de nome Salsinha, era o único daquela zona que falava fluentemente português. Ficou genuinamente feliz por eu o ter procurado, e eu, por fim, senti-me compreendido.
O Sr. Salsinha prontificou-se a guiar-me até ao local. A sua sabedoria e a sua companhia tornaram a caminhada extraordinária. O caminho, que antes me parecia um labirinto sem fim, agora desenrolava-se naturalmente, e quase sem dar por isso, cheguei ao destino.
E foi assim que, com a ajuda de um guia inesperado, alcancei o meu paraíso.
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